quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Para especialistas, segundo turno mais próximo

Deu em O Globo
Motivos apontados são o crescimento de Marina e a exigência do título com documento de identidade
Adauri Antunes Barbosa
A queda no índice de intenções de voto da presidenciável Dilma Rousseff (PT) e a subida de Marina Silva (PV), conforme divulgado ontem pelo Instituto Datafolha, pode levar ao segundo turno, de acordo com a análise de especialistas.
— A tendência que as pesquisas mostram é o crescimento de Marina. Ela está convencendo mais a classe média, eleitores de mais escolaridade e renda, e está tirando votos de Serra e de Dilma. Isso depois das denúncias do caso Erenice — analisou Mauro Paulino, diretor do Datafolha, que acredita ser o segundo turno ainda é uma "incógnita".
— A grande incógnita é se vai ter segundo turno e quem vai disputar com Dilma. Muito provavelmente será Serra, mas nada ainda está decidido.
A tendência mostrada pelo Datafolha faz com que o professor Emmanuel Publio Dias, diretor da ESPM e especialista em marketing político, tenha certeza de que haverá segundo turno.
— Com certeza teremos segundo turno. Mas com duas ressalvas: se acontecer alguma grande bobagem no debate da TV Globo ou se Lula montar um acampamento no Nordeste, no estilo messiânico, para convocar a população a votar na Dilma.
Sem tanta certeza, o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepal), acha que o segundo turno é uma tendência, para a qual um fator inusitado pode ter importância decisiva:
— É preciso levar em conta a consequência dos dois documentos pedidos para o eleitor poder votar. Qual será o nível de abstenção? A gente sabe que isso pode afetar os eleitores de menos renda e escolaridade, o que pode prejudicar a candidatura de Dilma, contribuindo para o segundo turno.
Um dos motivos do crescimento de Marina, conforme análise de Emmanuel Dias, é a mudança do voto antipetista de José Serra (PSDB) para a candidata verde.
— Serra perde votos porque o eleitorado esperava um discurso oposicionista que ele não está fazendo. O discurso "eu também vou fazer melhor" não se coloca contra Lula. Isso deixa o eleitor frustrado. Muitos eleitores do Serra, descontentes com esse discurso, estão mudando para Marina. É o voto antipetista mudando.
Para o cientista político Rubens Figueiredo, faltou aos tucanos e a Serra uma identidade com a oposição.
— O PSDB parece que renegou o passado, de coisas tão boas como o Plano Real, a revolução nas telecomunicações, a Lei de Responsabilidade Fiscal... Parece que tem vergonha do que realizou. Nessa campanha ainda houve a situação do Serra elogiar o Lula de manhã e atacar à noite.
Olhando os números das últimas pesquisas do Datafolha, Mauro Paulino observa que os segmentos de maior escolaridade e maior renda são os mais frustrados.
— Por segmento, a frustração maior é das classes de maior renda e maior escolaridade. Marina empata com Serra e os dois ficam próximos de Dilma, numericamente empate técnico. Mesmo assim é improvável que Marina supere Serra — disse, levantando ainda uma dúvida sobre a continuidade do crescimento da candidata verde: — Outra dúvida é até onde Marina vai crescer entre os eleitores mais pobres, cativos de Lula.

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