Aceitar a morte não é fácil. Ela é considerada, pela grande maioria dos viventes, como a mais concreta das certezas humanas. O fim de todos os projetos inacabados. Também é verdade que é um assunto que incomoda. Não é nem mesmo de bom tom tomá-la como tema de conversa entre amigos. Mas é igualmente verdadeiro que ela tem sido tema de especulações desde a origem do ser humano. A humanidade sempre buscou explicações para a morte, talvez, porque ela nos lembre de que somos humanos. Dessa forma, “através da mitologia e a religião surgiu as primeiras formas de pensamento criadas e desenvolvidas pelo homem tentaram dar respostas para a morte.” Eis o sentido maior do “Dia 02 de novembro”, sacralizado feriado nacional e conhecido como “Dia de finados”.
Ressalte-se que no Brasil, essas devoções populares não são somente encontradas nos cemitérios, elas são vistas nas rodovias ou em locais que estão enterrados familiares, e também é encontrado em outros países latinos – como o México. Nesse período podemos constatar uma grande movimentação nos cemitérios, dentro ou fora do local. Essa movimentação é atribuída a diversos fatores, como sendo o momento do encontro entre familiares para lembrar um parente ou amigo do falecido. De um tênue, porém intenso, reencontro dos vivos com os mortos. Entendemos que essa “visitação” é um aspecto marcante da cultura brasileira, que nunca separou radicalmente os dois mundos: dos vivos e dos mortos. Assim proliferam os símbolos: pessoas levam flores, acendem velas, cantam, fazem suas orações, num ato humano, reverenciando a memória dos que partiram. A vida se intensifica em torno da morte.
O comércio fúnebre é uma prova disso. As pequenas feiras que estão localizadas em frente ao local, chama atenção e isso é comum em várias cidades brasileiras, a quantidade de vendedores ambulantes aglomerados na calçada oferecendo aos visitantes infinidades de produtos como “santinhos”, coroas para túmulos e comidas etc.
É a celebração da saudade e da memória. De fato, compreende-se que há nesse dia um sentimento de saudade, de confortar a ausência do falecido, como retratada na poesia: “Senti saudades de tudo e deixa bem claro que encontrou a palavra para usar todas as vezes que sente este aperto no peito” (Clarice Lispector).
Texto de Ginevra Gurgel (caraubense) - Concluinte do Curso de Ciências da Religião da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Natal-RN
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