Falo nesta crônica da tentativa de assassinato político do Tiririca, que se propõe a ser palhaço político em uma casa onde tantos militam, impávido-colossos, como arautos boquirrotos de causas inconfessáveis e abaixo de qualquer suspeita. Muitos o criticam e deploram, embora centenas de milhares, em ato de irresponsabilidade ou de protesto, se dizem dispostos a dar-lhe o seu sagrado voto. Sendo eleito, mesmo fazendo palhaçadas de todo tipo, não será mais lamentável do que as brigadas companheiras, a defender com unhas e dentes a roubania e os desmandos dos governos.
Muitos tem erguido alto a luz de seus fachos e gritado a plenos pulmões contra a carnavalização da política, representada, dizem, pelo palhaço Tiririca. Defensores da alta política, do fino jogo ideológico, senhores versados nas ciências e nos meandros da política estão envergonhados com a jocosidade, licenciosidade, ou deboche mesmo, com que Tiririca, e outros de maquiagem mais branda e nariz menos encarnado, que conseguem ocultar a origem arlequinesca, tem se conduzido na presente eleição.
Que o "pagliacci" em questão não possui credenciais ou predicados morais, intelectuais ou propositivos para o exercício das funções que pleiteia é um fato. Aliás, como diria Nelson Rodrigues, é uma obviedade ululante. Mas, dentre os outros, que pleiteiam ou que já ocupam tais funções, quais ou quantos efetivamente os tem? Nenhum problema em eleger um Clodovil, um Netinho, um jogador de futebol qualquer ou um KLB?
A questão central repousa, portanto, não nos méritos ou pressupostos políticos, ideológicos morais ou intelectuais que o candidato possui ou se isso lhe falta. A revolta não é contra nos fazerem de idiotas, nos tratarem como trouxas, nos tomarem por imbecis e sim, contra o fato de alguém assumir que o está fazendo.
Se um Tiririca diz não ter declarado bens por os haver transferido a familiares a fim de evitar que os cobradores ou mesmo a justiça lhos tomassem, o caso é de aviltante falsidade ideológica. Agora, quando políticos de já larga carreira, obviamente já afortunados pelo tempo de contato com o úbere do erário, seja pela larga remuneração que recebem, seja pelo domínio de técnicas de rapinagem, declaram patrimônio sabidamente inferior às suas reais posses, ou quando declaram agora, patrimônio inferior ao de pleito ou pleitos anteriores, nenhuma voz se levanta. Onde a luz das altas consciências? Onde os brados de revolta cívica? Onde a indignação dos que nos resguardam a pequena, mas ainda viva, reserva moral? Nada. Somente o cínico silêncio da complacência!
Em um país no qual alguém se esquiva da cumplicidade, quando não da autoria, dizendo simplesmente que não sabia, ou que não poderia ou deveria saber, ou ainda, quando diz "não ser responsável pelo filho de alguém" mesmo que o referido alguém tenha sido posto para que você ali permanecer mesmo tendo saído; enfim, em um país assim, um Tiririca é profilático, um Tiririca é sanitário, um Tiririca é desopilante, um Tiririca é purgativo. Armar-se alguém de pedras e discursos com vistas a atingi-lo é o mesmo que matar baratas a metralhadora. É cuidar da gripe e negligenciar o câncer. É pentear os cabelos na iminência do dilúvio. Quem o faz, é cão que ladra do portão para dentro. É quem chega ao campo após finda a batalha, a tempo ainda de receber a medalha. É quem se jacta de chutar cachorro morto.
A mim, que prefiro a verdade hiperbólica das óperas à mentira cínica; que prefiro a descompostura aberta àquela de gabinetes, de que raramente um vídeo nos dá notícia, um Tiririca é ruim, é péssimo, é aviltante; mas não mais que muitos outros, dos que ora chegam ou que aí já estão.
* Pettras Felício
Escritor, graduado em Direito e professor de literatura
e interpretação de texto em colégios de Goiânia
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