domingo, 27 de fevereiro de 2011

Soneto
Vós que, de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,
E que os outros cuidados condenais
Por indevidos, baixos e pequenos;

Se ainda do Amor domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor depois que amais,
Quanto são mais as causas de ser menos.

E não cuide ninguém que algum defeito,
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa diminuir o amor perfeito;

Antes o dobra mais; e, se atormenta,
Pouco e pouco o desculpa o brando peito,
Que Amor com seus contrários se acrescenta.

Luiz de Camões

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