João Soares Neto
Dizia Mark Twain que são necessárias duas pessoas para uma calúnia prosperar: “um inimigo caluniador e um amigo para contar a história”. Quem conta não é amigo. Twain errou. Quem conta são os falsos amigos. Quase todos têm falsos amigos. É uma praga universal tão velha quanto a história da humanidade. Há muito dos sete pecados capitais nas relações de falsa amizade. O mais visível deles é a inveja. Os falsos amigos invejam o que imaginam que o outro tem, muitas vezes, sem ter. Idealizam a pessoa invejada e tornam-na alvo de seus petardos, frutos de sua própria pequenez e não da suposta grandeza do outro.
Há, entre várias, uma característica própria dos falsos amigos: a encenação. Os amigos têm gestos, discretos, velados até. Os falsos amigos são ruidosos, expansivos e supostamente fervorosos. Ou até agridem porque nada sabem fazer sem alardes.
Há livros e mais livros tratando das relações de amizade; uns as abordam de forma pueril, como se fora uma coisa maravilhosa, outros as vêem com desconfiança e, ainda, há os que não acreditam em amizades.
Penso que não é bem assim. Há amigos verdadeiros que fazemos ao longo de nossas vidas e permanecem ao nosso lado em todas as ocasiões; e há amizades circunstanciais que se desvencilham pelas próprias mudanças de estados de espírito e civis, de lugar, de trabalho e da nova forma que, em determinado instante, passamos a ver o mundo e as pessoas.
Há gente boa, íntegra e capaz que, por razões várias, não nos diz mais respeito. Apenas isso. Passam a faltar o sal e a naturalidade no falar. Para amigo não se procuram palavras, elas brotam e têm a naturalidade do falar de uma criança. Se você fala de forma estudada com uma pessoa, provavelmente essa pessoa não será sua amiga. O sal da amizade é o clima que transforma as coisas mais pueris em conversas sem fim, em bem-estar, ao sentir que o outro tem algo a ver conosco, mesmo que pense de forma totalmente diferente. Aliás, amigo verdadeiro não é um prolongamento dos nossos pensamentos, é um ser soberano que compartilha idéias, mas não alguém que nos bajula, agride ou serve.
O amigo é uma espécie de espelho em que nos vemos, pois as suas reações mostram o que estamos fazendo de certo e errado. Mas é preciso saber se o espelho está refletindo um amigo ou um falso amigo, pois muitos são fingidores e, por serem assim, perdem a própria identidade e o que se vê no cristal é um disfarce ou uma visão destorcida.
Um sinal de maturidade é não compactuar com falsos amigos. Não é preciso agredi-los, basta distanciar-se ou dar sinais inequívocos da inexistência de intimidade. Desconfie dos que lhe afagam ou agridem, elogiam ou a todos criticam e procuram ser íntimos, ao mesmo tempo em que transmitem estórias, fofocas e mazelas sobre amigos comuns. Na primeira oportunidade, farão o mesmo com você.
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