sábado, 5 de maio de 2012

Era o que era



Gilberto Costa



Nossa Casa Grande era uma tapera;
Nossa cama uma tipóia amarela!
Nossa seda era um corte de mescla;
Nosso guarda-roupa um saco de estopa!
Nosso calçado era uma zapragata de rabicho;
Nossa Árvore de Natal restos de lixo!
Nossa geladeira era um pote na Cantareira;
Nosso chuveiro goteiras nas telhas!
Nossa garrafa térmica era uma cabaça;
Nossa mistura carne de caça!
Nosso televisor era o sol e as estrelas;
Nosso computador nossa própria memória!
Nossa vitrola era o choro das crianças;
Nossa segurança um cachorro sarnento!
Nosso automóvel era o lombo de um jumento;
Nosso despertador um galo barulhento!
Nosso vinho era o Ki Suco de Uva;
Nossa esperança as águas da chuva!
Nosso Grande Livro era a Caderneta da Bodega;
Nossa leitura a poeira das léguas!
Nosso abajur era um lampião a gás;
Nossa vaidade a imagem da paz!
Nosso maior sonho era um dia ser gente;
Nossa felicidade ser gente decente!

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