sábado, 29 de janeiro de 2011

Poema

Parasitas -

No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus

Abílio Manuel de Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta 15 de setembro de 1850 - Lisboa, 7 de julho de 1923) - Além de poeta foi jornalista, deputado e escritor. Foi dos poetas mais populares de sua época. Representante da chamada "Escola Nova", teve grande representatividade, através de sua poesia, para a construção do ambiente que levaria à implantação da República.

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