domingo, 30 de maio de 2010

Uma Ordem ao Perigo

THEÓFILO SILVA

Reprodução InternetShakespeare diz na peça Como Gostais que: “O mundo inteiro é um palco e que todos nós somos atores” e também que: “As feridas que fazemos em nós mesmos cicatrizam-se mal. A omissão em fazer o necessário sela uma ordem ao perigo, e o perigo como uma enfermidade penetra-nos sutilmente, mesmo que estejamos deitados indolentemente ao sol”.
O mundo todo discute à questão nuclear iraniana, assunto bem complexo como são os que envolvem política internacional. Trata-se do acordo que o Brasil e a Turquia fizeram com Irã acerca de seu programa nuclear e que foi celebrado pelos incautos com grande pompa. Exagerando, lembrei-me do Pacto de Munique entre Hitler e Chamberlain em 1938, o mico do século XX. O Brasil sabe que não houve acordo algum, nós apenas demos mais tempo ao Irã para continuar seu programa atômico.
O fato dos três principais conselheiros de política externa do Presidente da República odiarem os EUA e trabalharem abertamente para contrariar qualquer interesse que diga respeito aos americanos tem tornado nossa política externa uma confusão. A busca febril, doentia do Brasil por um lugar no Conselho de Segurança da ONU - desde a década de vinte ainda na antiga Liga das Nações - tem nos metido em gafes internacionais desnecessárias.
É sabido que o Irã apoia as organizações terroristas que se escondem nas fronteiras de Israel e, caso o Irã consiga uma bomba atômica, a humanidade corre grave perigo. O chanceler Celso Amorim, agora político, preocupado unicamente com as benesses de seu cargo, não é apoiado por ninguém lá fora, tal o nível de irresponsabilidade de sua política. Completando o festival de sandices, o Vice-Presidente da República, o despreparado José Alencar, defendeu esta semana a existência de bombas atômicas como forma de manutenção da paz. Devia ter ficado calado.
Quem conhece História, sabe da estupidez que o Brasil está cometendo. O comportamento desses homens nos faz entender melhor o porquê das duas guerras mundiais do século XX. Lembremos as ações dos chanceleres alemães naquele período, Bethmann-Hollweg e Ribentrop. O apego ao cargo e a pusilanimidade desses diplomatas contribuíram para que a desgraça se abatesse sobre a civilização.
Contrariando a posição dos EUA, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Rússia e China o Brasil se alia a um ator de fundo de palco, no caso a Turquia, para intervir em um assunto que diz respeito particularmente a Europa, mesmo que interesse a humanidade como um todo. O Brasil está distante do Oriente Médio, o assunto não lhe cabe. A difícil questão do oriente muçulmano com a Europa vem desde o século VII. Os espirros de um bate no outro. Com o objetivo de fazer negócios com o Irã, o Brasil insulta a Europa. Quando se viu a Rússia e a França marcharem juntas com os EUA e as outras potências em assuntos de oriente médio? A declaração de Sarkozy apoiando o “esforço brasileiro” é mera retórica, deve-se ao fato de sermos um quintal cultural da França.
O gigantesco país tropical “deitado indolentemente em berço esplêndido” selou uma ordem ao perigo. É uma tentativa de ser ator principal no palco mundial, que gera manchetes e fotografias, mas que não passa disso. Felizmente, nesse imenso palco, somos coadjuvantes. Tranquilizemo-nos, os atores principais garantirão o final feliz.

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