quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Brasil vendeu 2,4 mil toneladas de carne de cavalo em 2012



Amostras de carne a serem examinadas em um laboratório alemão: nem Nestlé escapouMICHAELA REHLE / REUTERS

RIO – O recente escândalo da carne de cavalo em lugar da bovina em alimentos prontos vendidos na Europa — que respingou no frigorífico brasileiro JBS, fornecedor da Nestlé — jogou luz sobre o mercado de carne equina, no qual o Brasil vem perdendo espaço. Segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações brasileiras passaram de US$ 34,1 milhões e 19.100 toneladas, em 2005, para US$ 6,772 milhões e 2.375 mil toneladas no ano passado. A carne vai, basicamente, para França, Itália, Bélgica e Japão. O total de frigoríficos autorizados no abate de equídeos — que, além de equinos, inclui muares (mulas) e asininos (asnos) — passou de sete para apenas três: um em Minas Gerais, um no Rio Grande do Sul e um no Paraná.

— Já chegamos a abater cinco mil cabeças de equinos por mês há quatro anos, agora só abatemos 800 por mês — diz Gilson dos Santos, diretor financeiro do Frigorífico Mississipi, em Apucarana (PR).

Segundo Santos, o mercado de carne de equídeos ficou mais escasso devido à falta de rebanho. Como não há criação específica de cavalos para o abate, conta, eles dependem da demanda de descarte, quando animais não são mais aproveitados para outras funções ou quando se desiste de amansar determinados cavalos.

Santos diz que toda a produção se destina à exportação. Embora a questão do preço pese — a carne de cavalo sai do frigorífico a US$ 3 o quilo, contra, no mínimo, US$ 5 da carne bovina —, há outros fatores.

— A criação do cavalo é mais natural que a de bovinos confinados. E em diversos países, sobretudo na Europa, a carne de cavalo é uma iguaria — diz Santos.

Na segunda-feira, a Nestlé anunciou a retirada, das prateleiras de supermercados de Itália, Espanha e França, de vários pratos prontos nos quais foi encontrada carne de cavalo. No Reino Unido, porém, os exames deram negativo. A JBS Toledo, subsidiária da brasileira, comprava a carne que fornecia à Nestlé da empresa H.J. Schypke.

Bife a cavalo era de... cavalo

No Brasil, não há a cultura de comer carne equina, apesar de o clássico bife a cavalo (filé com ovo estrelado em cima) ser, originalmente, feito com o próprio. O steak tartare era feito com a carne de equídeos, temperinhos e um ovo cru. Tempos depois, ganhou a versão frita. E o ovo foi mantido, só que estrelado. A maioria dos brasileiros resiste ao consumo da carne, mesmo em viagens pela Europa ou Ásia, onde esta é largamente servida. Só que a maioria dos embutidos servidos mundo afora leva carne de cavalo em sua composição. Isso porque ela proporciona um paladar mais ativo e uma coloração mais forte, explica o gaúcho Roger Magalhães, sócio do Esplanada Grill.

— Acho que os brasileiros ainda não estão preparados para provar carne de cavalo. É uma questão cultural. As pessoas viram o olho quando falamos nisso por aqui — diz Lilian Seldin, sócia da pousada e restaurante Locanda Della Mimosa, em Petrópolis.

O florentino Marco Tacconi, chef do Fratelli, garante que a carne de cavalo é melhor que a bovina:

— Comia muito na Itália quando era criança. Aliás, existem açougues na Itália que só comercializam carne equina.

O francês Pascal Jolly, do bistrô Chez L’Ami Martin, também elogia a carne:

— Comia muito na França, quando era criança e estava em crescimento. Eu praticava muito esporte, e o médico da família recomendava o consumo da carne de cavalo, dizendo que era fortíssima.

Os cortes comercializados seguem a nomenclatura da carne de vaca: filé, contrafilé, alcatra... E do se abate, quase tudo se aproveita: a crina, por exemplo, é usada na confecção de pincéis.


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