quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Na calada da noite



Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é
o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança
incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava
em minha cama quando,
Sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu
corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor.
Percebendo minha aparente indiferença,
Aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos..
Até nos mais íntimos lugares.
Eu adormeci.
Hoje, quando acordei,procurei-te numa ânsia ardente,mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas
irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo para,na mesma cama, te esperar.
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos.
Não haverá parte do teu corpo em que meus dedos não passarão.
Só descansarei quando vir sair,o sangue quente do teu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti,
Pernilongo Filho duma Puta!!!
Carlos Drummond de Andrade

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