A alface e o bife, por Ricardo Noblat
Estavam fazendo picadinho de Roberto Carlos nas redes sociais porque ele tornou-se garoto-propaganda de carne. Vegetariano por mais de 30 anos, mudou de lado em troca de R$ 25 milhões de cachê.
A versão que caiu na rede dizia que Roberto deu uma entrevista revelando que voltou a comer proteína animal por recomendação médica. Alguém da Lew’LaraTBWA, agência de propaganda da Friboi, leu e viu nisso uma ótima oportunidade para consolidar a marca usando a imagem do cantor mais popular do Brasil.
O que os comentaristas de blog questionavam, no entanto, é se uma celebridade do porte de Roberto Carlos, na qual milhares de pessoas se espelham, pode mudar de opinião em troca de remuneração equivalente a um prêmio de loteria.
O cineasta Fernando Meirelles veio em socorro de Roberto. Postou uma mensagem no twitter revelando que a turma que gravou o comercial lhe contou o seguinte: o autor do megahit “Esse Cara Sou Eu” recusou a massa, aceitou uma picanha ao ponto, mas “não tocou no bife”. Eis um álibi que vale R$ 25 milhões.
No reino animal também aconteceu algo semelhante, há muito tempo, segundo La Fontaine.
Um leão de grande carisma elegeu-se líder graças ao discurso em defesa da honestidade e dos bichos pobres. Depois da posse, mudou de ideia e só se preocupou em conservar o poder. Não deu bola sequer para graves denúncias de corrupção imputadas a seus subordinados.
Tal como aconteceu com Roberto agora, muitos dos seguidores do leão se desencantaram, mas como ele tinha bons amigos, conseguiu poderosas testemunhas de defesa.
A coruja, dona de saber jurídico que a transformara na ave de maior prestígio da floresta, convenceu todos da inocência do leão. “Ele não tocou no bife”, garantiu, antecipando Meirelles.
Moral da história: se tiver um cineasta ou um advogado amigo, você pode comer carne e continuar vegetariano.
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