A Padroeira dos Olhos e o Rei do Baião
13 de dezembro! Dia de Santa Luzia, a divindade que nos alumia! No 13 de dezembro de 1912, um raio celeste, clarão encantado, iluminou a Terra, e nesse momento nasceu Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, o homem que botou o Nordeste no mapa do Brasil. Em homenagem a esse maravilhoso gênio, 13 de dezembro também foi consagrado como o Dia Nacional do Forró!
Muito se tem escrito sobre Luiz Gonzaga neste ano em que se festeja seu Centenário. Pela primeira vez, eu vi um artista merecer comemorações durante o ano inteirinho, em toda a mídia brasileira, principalmente aqui no Jornal da Besta Fubana, onde Luiz Berto, seu editor, vem postando, diariamente, músicas interpretadas pelo maior ídolo nordestino de todos os tempos. Neste momento, a contagem atinge a marca de 411 canções de seu vasto e riquíssimo repertório.
Mantenho em meus guardados alguns dos livros dedicados à biografia de Luiz Gonzaga: Enciclopédia da Música Brasileira, atualizada até 1975, que lhe dedica quase três páginas; O Sanfoneiro do Riacho da Brígida, de Sinval Silva, no qual Luiz conta sua história na primeira pessoa do singular; Luiz Gonzaga, o Maturo que Conquistou o Mundo, de Gildson Oliveira, a cujo lançamento assisti no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, com a presença de Edelzuíta, o grande amor do Rei; Mestre João Silva, Pra Não Morrer de Tristeza, de José Maria Almeida Marques, no qual se constata ter sido João o maior parceiro de Luiz; Gonzaginha e Gonzagão, de Regina Echeverria, com a discografia completa dos dois; e O Rei e o Baião, alentado volume, pesando 2 kg, editado pelo Ministério da Cultura e organizado por Bené Fontelles, com 100 fotos inéditas, algumas delas com Miudinho, razão pela qual vou doá-lo a Dona Sinhá, viúva desse grande zabumbeiro e memória viva do Forró.
Se mais não possuo, é porque, folheando outras publicações na livrarias, achei-as repetitivas, quase cópias do que já existe. Não querendo incorrer no mesmo pecado, falarei sobre duas obras dedicadas ao Forró lançadas recentemente, por serem livros de leitura saborosa, com novidades, sem ficarem pisando num barro já por demais amassado. A primeira é esta:
Foi um presente de meu primo Antônio de Pádua, o maior Dermatologista de Brasília, que o deixou na Portaria de meu Bloco. Ao recebê-lo, meu pensamento foi cruel: “mais um livro sobre Luiz Gonzaga”. Julgamento amenizado pelo início do prefácio de Assis Ângelo, autor do Dicionário Gonzagueano, de A a Z: “INFORMATIVO E CATIVANTE. Era só o que faltava: um livro que contasse de forma diferente e gostosa a história de Luiz Gonzaga do Nascimento, já tantas vezes narrada por autores os mais diversos…”.
É uma história bem contada do Rei, de forma romanceada, com lances inéditos, que prendem o leitor, do começo ao fim. Nela, Roniwalter esclarece a polêmica esterilidade de Luiz, de forma incontestável. Recomendo sua leitura para quem quiser saber mais sobre nosso Gonzagão.
A outra foi adquirida mediante encomenda na Passa Disco. Dela tomei conhecimento através de anúncio e convite para o lançamento. Interessei-me porque seu autor, Ricardo Anísio, paraibano calibrado, já fazia parte de minha vida literária, embora ele nem se lembre mais disso.
Em dezembro de 2003, autografei meu livro Do Jumento ao Parlamento, em João Pessoa, no Parahyba Café, localizado na Usina Cultural Saelpa, estando presente seleta plateia composta de intelectuais pessoenses, dentre eles Ricardo Anísio, conhecidos de minha irmã Maria dos Mares, artista plástica com ateliê naquela cidade, que comemorou seus 70 em junho passado:
Cumprido meu dever nepotista, passo-me ao escritor de quem falava.
O livro é todo ele composto de belas crônicas dedicadas a grandes vultos do Forró, a maioria deles figurinhas carimbadas no cancioneiro popular, outros nem tanto, e alguns para quem a mídia jamais dedicou sequer um pingo de tinta.
Pra me ganhar de vez, os dois primeiros focalizados são, pela ordem, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Não poderia ser de outra forma. Dediquei grande parte do tempo de minhas pesquisas a angariar o repertório desses dois ícones maiores da MPB. Hoje, posso gabar-me de possuir toda sua discografia, Luiz com 681 entradas, e Jackson com 438. Jackson do Pandeiro é, em minha classificação pessoal, o maior nome da Música Brasileira e Mundial. Questão de gosto. Com ele, aprendi a dançar forró, eis que surgido em minha adolescência.
Ricardo Anísio é corajoso. Desce o cacete em quem acha que bem merece, sem dó nem piedade, mas também é daqueles que mordem e depois assopram, é pródigo no elogio, mas sincero e, às vezes, cáustico, na apreciação.
O prefácio de Forró de Cabo a Rabo é de Jessier Quirino, que aconselha: “Caso você discorde do que Ricardo Anísio publicou neste livro, não se sinta incomodado e pode atirar pedras contra ele…é a polêmica que o tem alimentado durante mais de três décadas. E certamente uma coisa que ele não em é telhado de vidro”.
Já li muitas críticas quanto a este trabalho do Ricardo, principalmente quando ele tem o desplante de vir a público dizer o que pensa do Rei, neste ano de seu Centenário, em que só se lhe têm sido dedicados rapapés e louvações.
Em certos pontos, somos convergentes: que seria da popularidade de Nelson Cavaquinho sem Guilherme de Brito, de Milton Nascimento sem Fernando Brant, de Luiz Gonzaga em Humberto Teixeira, Zé Dantas e João Silva?
Ricardo é impertérrito ao revelar o de que não gosta. Eu quereria de ser assim. Mas só tenho coragem de revelar o de que gosto, ficando o resto na encolha. Mas, com coragem, falo de minhas preferências, embora a alguns cause espécie: creio em Deus Pai, Todo Poderoso, criador do Céu e da Terra, e em Jesus Cristo, seu único filho, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Sou devoto de Nossa Senhora, Santo Antônio, São Sebastião e Bom Jesus da Lapa.
Estabelecida minha posição religiosa, digo mais: em minha avaliação, Luiz Gonzaga não foi impecável. Achei-o de muito mau gosto quando ele, em 1955, gravou Forró do Zé Tatu, de Zé Ramos e Jorge de Castro, respondendo a Forró em Caruru, de Zé Dantas, gravado por Jackson com tremendo sucesso. Naquele momento, Luiz, já consagrado, com a carreira consolidada, pareceu impregnado de incontido ciúme daquele paraibano baixinho e metido, que procurava se firmar no cenário forrozeiro.
No mais, Luiz Gonzaga é Rei do Baião, o Rei do Forró, e nisso concordamos Ricardo Anísio, eu e todos os brasileiros de bom gosto.
Para evitar o julgamento de que fui totalmente covarde, ao esconder minhas condenações musicais, e externando algo entalado na garganta, sou solidário com Ricardo Anísio ao firmar que detesto toda a obra do parceiro de Erasmo Carlos, a quem muitos tratam também como rei.
Minha vassalagem na Monarquia Musical Brasileira só conhece três Majestades: Francisco Alves, o Rei da Voz; Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo, e Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Salve Luiz Gonzaga, O Rei, homem que reinventou o Nordeste Brasileiro!
Neste seu Centenário, a maior e mais duradoura homenagem ao Rei foi prestada pelo Jornal da Besta Fubana, nas pessoas de Luiz Berto, seu editor, e de Aline, sua mulher, que se esmera nas postagens. Impressionante é o acervo de que dispõem, quase não me dando a chance de oferecer á Comunidade Fubânica, alguma faixa aqui inédita.
Em 1946, o Presidente Dutra, que se ocupava de problemas paroquiais, deixando seus Ministros governarem o Brasil, editou uma circular exortando o povo a trabalhar, mas sem torrar a grana. Diferentemente dum certo governante Apedeuta, que mandava o povo comprar, comprar, comprar. Aproveitando a deixa, Luiz Gonzaga, glosou o fato, com o frevo-marcha-samba Cai no Frevo, que ele mesmo gravou para o Carnaval de 1947:
– Você já leu a circular do Presidente?
– Eu não! Eu não!
– Vamos trabalhar, economizar
Vamos brincar sem gastar.
E as despesas, quem paga é o “coronel”
E as mulheres, já temos a granel
Pra nossa alegria, não falta mais nada
Quero samba, batucada
Cai no frevo, negrada!
Vamos ouvi-la:
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