Sempre que a palavra voto me vem à cabeça, ela é acompanhada de algumas frases que enchem meu peito de vigor cívico. E tome “ direito sagrado do cidadão”, “base da democracia”, “alternância do poder” e outros petardos que atingem profundamente este meu espírito de liberdade, com acentuada inclinação para o furdunço e na banguela desenfreada anarquia abaixo.
As frases são lindas.
Pena que tanto civismo enfeitado e repleto de balangandãs, não passe de fantasia criada exatamente para insuflar as almas ainda crédulas tais e quais a minha, que se arrepia até no cabelo do impublicável, ao ouvir um dobradão furioso soprado por uma banda, tocando um simples Hino à Bandeira
Civismos à parte, o voto no Brasil não funciona bem assim. Voto verde-amarelo é dever de cidadão, sem a contrapartida justa dos direitos. Ta difícil de entender, seu burro? Quer que eu desenhe pra você seu nerdezinho meia colher?
Pois antão lá envai.
Tudo começa pela desigualdade eleitoral dos candidatos, criada por alguns fatores que não passam pela cabeça de todos os eleitores. Um deles é a verba destinada às campanhas. Apesar de todos os partidos terem seus rendimentos amparados por lei, o correto no Brasil é o desrespeito a ela, e que propõem safadezas e falcatruas de todas as espécies e despudores.
E é por exatamente aí que começa toda a movimentação corrupcional ( atenção Aurélio, se a palavra não existir, favor acrescentá-la na próxima edição do dicionário) Tupiniquim. De olho em eleições futuras a putaiada se alvoraça no puteiro.
E tome superfaturamento, concorrências dirigidas, cargos para pelegos e outras pungas deslavadas.
É preciso pensar também nas coligações políticas, feitas com partidos de aluguel, que miram certeiramente no tempo disponível na mídia eletrônica, para que os “programas” sejam imensos e repletos de sensibilidade.
Tem gente chorando; candidato que odeia povo, carregando menino remelento; tem cenários lindos de um futuro feliz e risonho; gente recebendo casa própria; promessa de melhoria de aposentadoria; gente com rodo na mão tentando tirar as águas das enchentes; menino gordo e feliz comendo filé minhon na merenda escolar e outras safadezas marqueteiras.
A roubalheira pré politicalha foi tanta que dinheiro não arará de faltar pra nada. Dinheiro pra receitas médicas, pra comprar tijolos, cestas básicas e ainda uns trocadinhos para pagar em moeda sonante, o sonho da feira da semana de uma família inteira, sem que isso signifique compra de votos.
E pronto. A negociação caminha no escondidinho falso e pra boi dormir. Todo mundo sabe, todo mundo entende, todo mundo deixa e todo mundo participa.
Mas o pior, o pior mesmo, vem agora.
Prefeitos, como sabemos, não conseguem governar sem o legislativo. Daí restam duas possibilidades: se a coligação do candidato vencer a parada, por certo arrastará o maior numero de vereadores, respectivamente.;
Se o Executivo vencer com poucos representantes no legislativo, começa uma nova safadeza. E aqui, em banânia, ela é chamada de base de governabilidade ( lindo isso). Consiste em providências imediatas de distribuições de cargos, para trazer candidatos de outros partidos a apoiar o safado mandatário. Outra possibilidade ainda é a da compra simples de suas consciências, através dos mensalinhos e mensalões.
Pronto. Seu votinho foi pro merdeiro. Você que foi consciente, analisou e escolheu corretamente, acabou jogando o seu “sufrágio universal” no aterro sanitário, exatamente onde está a maior merda política do Brasil: Câmaras municipais, Assembléias Estaduais e Congresso Nacional. Todos comandados por um pilantra mor e sob seus mandos e desmandos.
Mas, mesmo assim dou um viva ao voto. Mesmo desrespeitado, insultado, comprado, escarrado e cuspido, ainda é nele que resta alguma esperança.
Viva o voto! Viva a democracia!
Um dia a gente chega lá.
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