sábado, 7 de novembro de 2009

LULISMO FICA ENTRANHADO NO MST

artigo

Lula, lulismo e sucessão

Os regimes que se fundam na liderança de uma única pessoa – e dela se tornam dependentes - tendem ao autoritarismo.

A história contemporânea é farta em exemplos: Mussolini, Franco, Salazar, Perón, sem falar em Hugo Chavez.

Fernando Henrique Cardoso citou, em artigo de grande repercussão, publicado há uma semana, que a liderança de Lula expressa essa tendência.

Não é uma liderança doutrinária ou ideológica. É populista, fisiológica e faz do Estado – e, dentro dele, dos bilionários fundos de pensão – o seu instrumento básico de ação política e perpetuação no poder.

Comparou-o a Juan Domingo Perón, o presidente argentino entre 1946 e 1955 e entre 1973 e 1974, que, ainda hoje, inspira a ação de diversos partidos políticos naquele país, inclusive o que presentemente o governa.

Perón, como Lula, tinha forte base sindicalista e seu discurso era nacionalista. Tinha apoio na Igreja Católica e fez de sua liderança personalista, apoiada num discurso populista, de pai dos pobres, o norte de sua política.

A preocupação de FHC é com o Brasil pós-Lula, a dependência que um eventual sucessor por ele eleito ficará de seu aval político e pessoal. O receio de que venha a fundar um peronismo caboclo. Um Vargas mais bem equipado.

A infiltração da nova elite sindical na máquina governamental – o tal aparelhamento que hoje a abrange por completo – não será removida facilmente, mesmo que a oposição venha a eleger o sucessor.

Some-se a isso, a ação, cada vez mais agressiva, dos movimentos sociais – MST à frente – e ter-se-á o panorama que aguarda o futuro presidente. Se for Dilma, o continuísmo manterá as coisas como estão. Se a oposição vencer, será refém do lulismo.

Somente Lula terá interlocução com essas duas vertentes solidamente instaladas no Estado: a nova elite sindical e os movimentos sociais.

Se hoje, com ele pilotando diretamente a máquina, há ruídos, imagine-se sem ele. Sabe-se, por exemplo, que, recentemente, o presidente indispôs-se com o comando do MST, em face da estratégia indiscriminada e mais agressiva das invasões.

A divergência não as deteve, como se nota pelos últimos acontecimentos, mas não estabeleceu nenhum rompimento. O governo continua empenhado em esvaziar a CPI mista do Congresso, em processo de instalação.

Nota-se, porém, que não é um convívio ameno, embora governo e MST sejam parceiros formais.

Imagine-se um eventual governo Serra ou Aécio ou mesmo Ciro, que, embora formalmente alinhados à esquerda – ao menos no discurso –, são considerados estranhos no ninho dos movimentos sociais.

Necessitarão da intermediação de Lula, que continuará, desse modo, a influir diretamente no processo de estabilidade política, como seu fiador.

Isso explica o cuidado de Serra e Aécio em não bater de frente com o presidente. Nem mesmo nos momentos mais cruentos do Mensalão, os dois ousaram afrontar Lula.

Aécio apresenta-se não como o anti-Lula, mas como o pós-Lula, o que é algo bem diferente.

Serra, nem isso. Mantém-se em silêncio obsequioso, exibindo estranha indiferença às pesquisas que o dão como favorito na corrida sucessória. Não basta ganhar as eleições.

É preciso vencê-las sem perder de vista a necessidade de interlocução com o establishment lulista. Lula sai, mas o lulismo fica.

A nova elite sindical aprendeu a manejar a máquina e os recursos bilionários dos fundos de pensão.

Adquiriu autonomia de vôo. É aliada dos movimentos sociais, que frequentemente infringem a lei, sob o olhar complacente dos governantes.

É dentro desse quadro que o futuro presidente governará, seja ele quem for.

Ruy Fabiano é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário